segunda-feira, 30 de março de 2009

UAI, EU?

Se o assunto é meu e seu, lhe digo, lhe conto; que vale enterrar minhocas? De como aqui me vi,
sutil assim, por tantas cargas d’água. No engano sem desengano: o de aprender prático o desfeitio da
vida.
Sorte? A gente vai – nos passos da história que vem. Quem quer viver faz mágica. Ainda mais
eu, que sempre fui arrimo de pai bêbedo. Só que isso se deu, o que quando, deveras comigo, feliz e
prosperado. Ah, que saudades que eu não tenha... Ah, meus bons maus-tempos! Eu trabalhava para
um senhor Doutor Mimoso.
Sururjão, não; é solorgião. Inteiro na fama – olh’alegre, justo, inteligentudo – de calibre de
quilate de caráter. Bom até-onde-que, bom como cobertor, lençol e colcha, bom mesmo quando com
dor-de-cabeça: bom, feito mingau adoçado. Versando chefe os solertes preceitos. Ordem, por fora;
paciência por dentro. Muito mediante fortes cálculos, imaginado de ladino, só se diga. A fim de
comigo ligeiro poder ir ver seus chamados de seus doentes, tinha fechado um piquete no quintal: lá
pernoitavam, de diário, à mão, dois animais de sela – prontos para qualquer aurora.
Vindo a gente a par, nas ocasiões, ou eu atrás, com a maleta dos remédios e petrechos,
renquetrenque, estudante andante. Pois ele comigo proseava, me alentando, cabidamente, por norteação
– a conversa manuscrita. Aquela conversa me dava muitos arredores. Ô homem! Inteligente como
agulha e linha, feito pulga no escuro, como dinheiro não gastado. Atilado todo em sagacidades e
finuras – é de fímplus! de tintínibus... – latim, o senhor sabe, aperfeiçoa... Isso, para ele, era fritada de
meio ovo. O que porém bem.


(ROSA, João Guimarães. Tutaméia: terceiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Parte de mim

"De repente toda mágica se acaba"
Mas porque acaba? E se eu gosto de mágica?
Eu escutando essa música, apenas pensei:
A mágica pra uma criança é como o Céu,
"De repente toda mágica se acaba", de repente todo o céu desaba!!
É um choque!! Mas eu entendi, a criança, não mais criança, estais a crescer,
assim como todos nós, essa fase é ruim, deixaremos nossos brinquedos de lado,
nossas bonecas, nossos marchimellows e nossas apreciações pelo Céu azul.
E agora acompanha teu dia e pra minha poesia é o ponto final,
é o ponto em que recomeço, recanto e despeço da magia que balança o mundo!



Inspiração: Bailarina e Soldado de Chumbo - O Teatro Mágico